Friday, March 21, 2014

aventuras pelo mundo ou o que mulher sofre

Desde pequena que me adjectivei de cidadã do mundo, filha de imigrantes Portugueses em França, nunca bem nem uma coisa nem outra e que se criou a Comunidade Económica Europeia e mais tarde a União Europeia aí, comecei a designar-me de Europeia. Acho que foi por isso também que nunca gostei muito de rótulos e etiquetas. Jovem adulta fui para Portugal, instalar-me e fazer vida, mais tarde vivi uma experiência incrível de dois anos e meio no Dubai, e agora, estou a começar uma nova aventura em Singapura. Achei que poderia ser interessante descrever a minha experiência por cá, comparando-a com às minhas experiências anteriores de França, Portugal e Dubai e assim se calhar ter um verdadeiro retrato do que são verdadeiramente, as tais diferenças culturais, através das minhas vivências, através das vivências duma cidadã do mundo.
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archive/2008/07/02/epilation.html
Escolhi o dia de ontem, se bem que não foi escolhido aleatoriamente, é claro, para pôr à prova um dos primeiros passos da integração cultural, pelo menos para mim, a mais assustadora: a procura duma esteticista. Assim, este primeiro relato comparativo será da experiência duma cidadã do mundo, ou, a escolha de tortura da mulher de ocidente para oriente.
Primeiro passo, o momento.
Como referi, o momento de eleição para me submeter à tortura é facilmente definido: o mais tarde possível! Assim, nos primeiros dias que seguem a chegada ao pais, não penso muito nisso, todos os meus sentidos e toda eu maravilhados som um mundo novo, um mundo diferente: pessoas, paisagens, comidas, cheiros e cores. Mais tarde quando aparecem os primeiros pêlos, o pânico instaura-se e discretamente, começo a olhar para as mulheres com um olhar mais analítico. Não sei bem o que procuro identificar, se calhar marcas de sofrimento ou a falta delas; seguramente a falta delas, para me apaziguar a angustia que já imagino. Quando chega o dia em que “daqui já não passa”, lá vou eu, à procura dum carrasco.
O segundo passo, o carrasco.
Com tanto stress que crio, a procura do local da temida epilação torna-se muito importante, assim defini rapidamente uns elementos-chave: segurança e higiene. É que vamos lá ver, a maca duma esteticista é um sitio de total vulnerabilidade, em que confiamos na pessoa que nos atende, assim como nos seus instrumentos, para nos proteger com toda a delicadeza, sabedoria e profissionalismo possível, do inexorável avanço duma florestação simplesmente inaceitável; e mais uns quantos adjectivos que nem sequer valem a pena ser enunciados.
Este passo, quando somos adolescentes ou jovens adultas, não é assim muito difícil porque há sempre uma mãe, uma irmã ou uma amiga para nos recomendar a sua esteticista, que nos trata bem, não magoa, e respeita a nossa intimidade. E olhem meninas do mundo que, esta é uma recomendação muito valiosa! Nunca a desdenhem. Nunca.
Ora, tal, não acontece, quando metemos na cabeça que queremos ver o mundo e viver experiências extraordinárias, porque quando chegamos a esses destinos fabulosos, não temos, a mãe, a irmã, nem a amiga que nos dê essa preciosa recomendação; temos de confiar apenas na sorte, e a sorte, nem sempre aparece à hora marcada; mas entre a necessidade e a fé, lá fui eu, a procura da pérola. Dirijo-me sempre primeiro a um centro comercial, parece que dá uma espécie de aval, o facto de ser um sítio público, com muita passagem... e que, caso a coisa não corra pelo melhor, alguém, de passagem, ouvirá os meus pedidos de socorro. Está assim assegurada, tanto quanto possível, a parta da segurança, mas a parte da higiene, não é tão simplesmente avaliada.
O terceiro passo, o teste.
Acho que não existem segredos sobre como testar um serviço, eu opto por, inicialmente, pedir um serviço de baixo risco, algo simples e como tal, vamos arranjar as sobrancelhas. Primeira diferença cultural. Em França, fazem-se sobrancelhas, em Portugal, arranjam-se sobrancelhas, no Dubai e em Singapura, limpamos ou afeiçoamos as sobrancelhas. Mas isto tudo é semântica! O que interessa, é o serviço, que seja bem feito, bonitinho, limpinho e baratinho. Mas lá está! Quando se passam fronteiras, também muda a técnica: em França, é com cera, rápido, sem um sorriso, e uma factura bastante salgada. Em Portugal, ainda se consegue encontrar quem faça à pinça mas isso já é quase considerado artesanato porque demora mais tempo e que como todos sabemos: tempo é dinheiro; no entanto, é muito melhor, pois, a cera irrita a pele muito sensível nessa zona e tendencialmente, a pele perderá da sua tonicidade.
Quando cheguei ao Dubai, mandaram-me deitar na maca, até aí, nada de anormal. Eu habitualmente começo aí os meus exercícios de respiração para tentar relaxar ao máximo e conseguir superar a prova (Ok, isto não se aplica tanto aqui, quando se vai tratar das sobrancelhas, mas quando o serviço é mais complicado, então aí, sim.) Mas voltando... Lá estou eu, deitadinha na maca e vejo a senhora chegar ao pé de mim com um rolo de fio de costura na mão, segurando uma das pontas entre os lábios e dizendo-me entre dentes para “segurar o olho”. “Sorry, come again.” O quê que ela quer? Então a senhora, com pouca paciência e tal, sorri, pega nos meus dedinhos e posiciona-os na minha cara de forma a esticar a pele da zona que ela vai tratar e se calhar proteger o olho do ataque que se prepara. Esse método, é mais doloroso, é certo, mas também mais higiénico e se bem feito, até tem efeito mais duradouro; quanto ao custo, tendo em conta o custo elevadíssimo dos materiais e dos recursos, o preço é o dobro do que se pratica em Portugal, é claro, Dubai é Dubai.
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Mas o verdadeiro trauma surgiu a minha introdução ao método Singapurense, quando a senhora se chega a mim com uma lâmina de barbear. Isso! O choque! Hoje repenso nisso e até imagino um olhar maquiavélico na senhora, típico dos manga, olhos vermelhos e fumo a sair. Confirmo; um trauma. Na verdade, a lâmina era pequenina e até cor-de-rosa (faz-me parecer que as Singapurenses pensam que tudo fica melhor se for cor-de-rosa). O trabalho foi minucioso, sem dúvida. E ainda tenho os meus olhos, é verdade. Mas pareceu-me tão arcáico até bárbaro que entrei em choque e não consegui pensar em mais nada nas horas seguintes como se tivesse sido maltratada. No entanto, ficou bem feito e não senti dor física; mas não garanto da longevidade do resultado, como é óbvio, quanto ao preço, três vezes mais caro do que em Portugal.
Por último, a lição.
A experiência foi concluída com sucesso: as sobrancelhas foram feitas, arranjadas ou afeiçoadas. E conclui-se que a minha pesquisa da esteticista ideal em Singapura não acabou, mas também não estou admirada: tal como referi, encontrar uma esteticista com quem nos sentimos bem é importante, em França nunca encontrei nenhuma, em Portugal tive duas, no Dubai, demorou mas consegui, então Singapura continua a não me assustar porque ei de arranjar o carrasco certo!
Ainda sobre diferenças culturais, gosto de ter esta sorte de poder viver estas experiências à maneira duma local e verificar como se é mulher por esse mundo fora. Tenho o privilégio de conhecer mulheres do mundo, todas diferentes na sua língua, na sua crença, na sua postura, na sua profissão, mas toda igual, quando chega a hora de se aperaltar, porque por muito natural que seja a mulher, quando o momento é certo, haverá sempre uma flor no cabelo, uma cor nos lábios ou até um brilho nos olhos.

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