
Passo a explicar porque parece que nos dias de hoje, em que tanto se luta pela igualdade de direitos homens/mulheres, eu (e outras) ter adoptado o apelido do meu marido é comparado a um crime. Ok! Estou a exagerar um pouco, mas a verdade é essa, fala-se em perda de identidade, submissão, e até falta de inteligência. Uiiiiii
Primeiro, quem me conhece até sabe que sou ligeiramente feminista, que não sou pessoa de esperar a ajuda de um homem para me "salvar" de alguma situação muito menos esperar que o meu marido me ajude a ganhar uma identidade. Até porque pelo que parece, tenho identidade própria e como que, bem vincada até. (dizem as más línguas).
Segundo, submeter-me a tal da pressão social é algo completamente incompatível com a minha personalidade. Claramente. E isso, já diziam de mim pequenita: que não me podiam obrigar a fazer nada que eu não quisesse fazer. Nunca fui seguidora nem submissa à outros nem a modas. Sempre gostei de fazer o meu caminho e ainda hoje, quando vejo setinhas no metro de Singapura para que os utilizadores sigam como carneirinhos o caminho até às escadas, tenho o impulso de passar para o lado de lá da corrente humana.
Por fim, serei eu demasiado romântica ou inocente por ficar chocada com o facto dum dos motivos apresentados para a não adopção do apelido do marido ser evitar a burocracia necessária na eventualidade do divórcio?! Só me apetece perguntar: será que querem mesmo casar? Mesmo?
Eu sempre soube que iria querer o apelido do meu marido. Para mim, o Casamento representa a união duma família e não queria de forma alguma, ser a mãe (Sra. C.) que iria buscar o filho (Menino A.) à escola. Não fazia sentido para mim. Era completamente inconcebível para mim, ter um apelido diferente dos meus filhos. Eu queria fazer parte duma família unida e reconhecida nesta união. E hoje, esposa e mãe (ainda que recente), estou feliz por o ter feito.
Uns tempos depois do Casamento, uma das minhas amigas, a L., perguntou-me porque o tinha feito, porque tinha adoptado o apelido do meu marido, porque a tinha surpreendido que, independente que eu era (e continuo a ser), não tinha imaginado que fosse algo que eu pudesse querer. Expliquei à minha amiga, que mais importante que a minha independência, era a minha família, e que fossemos unidos. Penso que a deixei a pensar, se calhar até a repensar a decisão dela, uns anos antes, de não adquirir o apelido do marido. Somos todas e todos diferentes e também as nossas decisões de há uns anos poderão ser bem diferentes das que tomaríamos hoje, e não acho que seja um problema ou que esteja mal, avançamos cautelosamente (mas não em demasia) com integridade e com a informação disponível, e esperamos sempre que sejam as melhores decisões. (Um beijinho amiga L.)
O meu marido até ficou surpreendido quando lhe falei na minha intenção e até me pôs à vontade e disse-me que não tinha de o fazer, mas eu expliquei-lhe os meus motivos e no fim até ele pensou em adoptar o meu. Fiquei sensibilizada e até teria gostado; em toda a sinceridade, não imaginava que fosse assim tão simples, mas pronto, este artigo sempre serviu para alguma coisa: esclarecer sobre a lei, e quem sabe um dia, assim o faremos.
Agora, reitero, esta foi a minha escolha. Escolha que assumo, feliz, ainda hoje e espero por muitas décadas. E a quem acha que perdi a minha identidade respondo: não perdi coisíssima nenhuma! Ganhei uma família!
E lamento se a minha decisão ofende mas lamento ainda mais, que pessoas minhas conhecidas concordem com o conteúdo deste artigo. O que me importa é que sou feliz, e espero que o sejam também.
E lamento se a minha decisão ofende mas lamento ainda mais, que pessoas minhas conhecidas concordem com o conteúdo deste artigo. O que me importa é que sou feliz, e espero que o sejam também.
Fonte: Jornal Público, edição de 18.11.2014, autor Claudia Bancaleiro
http://lifestyle.publico.pt/artigos/341672_identidade-submissao-ou-amor-o-que-significa-adoptar-o-apelido-do-marido/1