Saturday, September 8, 2012

um mundo que existe?

Ela, muçulmana, vestida com a roupa tradicional dos Emirados Árabes Unidos, nos seus 40 anos, com uma expressão neutra diria quase vazia pintada no rosto. Ele, um pequenino de 6 anitos arrastado por ela, sua mãe, quase aos trambolhões mas sem muito preocupação, cambaleia por entre as pessoas, no meio da multidão. A mãe, na sua preocupação, ou será despreocupação, trá-lo a embater num estranho na sua descontracção. Sem sequer uma expressão de contrariedade, ela, pune o menino que a trava na sua caminhada de uma palmada assim sem jeito, e mesmo sem razão. O menino, que parece nem ter percebido o motivo de tal punição, corre prás pernas da mãe, a pedir desculpa... antes a pedir protecção, mas esta mãe não tem tempo, não tem compaixão, e rejeita o menino que cambaleia dois ou três passos para trás e durante o que me pareceu um minuto inteiro mas que não deve ter demorado mais que uns segundos, ele fica, ali, petrificado, atordoado o que se terá passado? E lança-se contra esta mãe com o punho esticado e aplica-lhe o castigo por tal rejeição. eu não sei, será castigo ou chamada de atenção, (ehhhh mãe, explica-me! o que foi? O que se passou?). nada... e mais um muro, sem força, sem jeito, sem maldade nem raiva, apenas um beicinho desenhado na boca deste menino ainda tão pequenino.
O episódio acabou assim para estas duas pessoas que não consigo qualificar de família, mas aqui estou eu, no meio das bancas de bananas e feijão-verde, boquiaberta, as lágrimas a rolarem-me pela face abaixo, chocada, e crio na minha imaginação uma vida que me conforta e assusta também; quero acreditar, que esta senhora sente-se presa num casamento não desejado, forçada a acatar com as tradições desta cultura e deste mundo que a criou e a obrigou a dar a vida à esta criança, esta criança, uma no meio de muitas mais com certeza; este menino desvalorizado, rejeitado e brutalizado, retirado de tudo o que idealizo, eu, que sonho num mundo que não sei se existe.

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